Quem sabe é uma sentença inacabada,
Já vi a resposta em algum sonho,
Porém, do sonho, só me resta a dormência.
Mas tais versos não me saem da cabeça,
Quem sabe alguma coisa?
Boa o suficiente para calar o silêncio gritante em que me encontro,
Preencher o lugar ermo em que me planto,
Afrouxar o coração amargurado que escamoteia,
Dar passo ao descompassar claudicante.
É uma expressão excelente para quem não sabe o que dizer,
Ou para quem gosta do não-dizer, de esperar pela hora certa.
Meticulosos e ardilosos adoram-na.
Por isso, escrevo a/sobre ela.
Quem sabe serei alguma coisa na vida,
Quem sabe a vida será alguma coisa pra mim.
Quem sabe um dia alguém merecerá ser o que é,
Quem sabe algum dia alguém saberá o que é.
Quem sabe algum dia o porquê seja explicado,
Quem sabe um dia saiba que tudo pelo que lutei foi em vão.
Quem sabe algum dia o povo não precise mais de ópio.
Quem sabe algum dia veja que o nada há,
Quem sabe é real ou projeto?
Quem sabe o Elvis não morreu.
Quem sabe faz ao vivo!
Quem sabe o inferno seja aqui, e o céu... logo ali.
Quem sabe dizer “quem sabe” em sânscrito?
Quem sabe algum dia os ideais sejam mais importantes que os fatos,
Quem sabe um dia os fins não justifiquem os meios.
Quem sabe algum dia a inveja não seja mais desejante,
Quem sabe algum dia não tema mais a mim mesmo.
Quem sabe um dia serei o que pareço,
Quem sabe um dia alguém entenda alguma coisa do que digo.
Quem sabe algum dia você fale grego e eu entenda,
Quem sabe um dia saio pela rua totalmente “piantao”,
Quem sabe algum dia possa gritar à vontade com todos que já gritaram comigo.
Quem sabe um dia não me sinta tão só.
Quem sabe tenha a sorte de dormir primeiro,
Quem sabe tenha que apagar a luz.
Quem sabe quando vai morrer?
Quem sabe já esteja morto.
Quem sabe um dia eu consiga “dizer adeus”.
Quem sabe algum dia tu serás aquilo que sonhastes,
Quem sabe por que “quem brincava de princesa acostumou na fantasia”?
Quem sabe algum dia Nietzsche encontre um super homem,
Quem sabe, existe, diria Zaratrusta.
Quem sabe algum dia exista um estóico em paz,
Quem sabe um dia cante na rua como no chuveiro.
Quem sabe... c’ que sabe.
Quem sabe nem Freud explica,
Quem sabe algum dia o consciente também seja coletivo.
Quem sabe possamos nos dar mais uma chance.
Quem sabe, pois o amor é uma palavra fora de moda,
Quem sabe, porque mesmo assim não a negamos.
Quem sabe um dia eu consiga falar menos e abraçar mais.
Quem sabe um dia meu jeito de amar não seja tão sofrido.
Quem sabe um dia não seja tudo tão pesado,
Quem sabe falte leveza na nossa vida.
Quem sabe quando eu estiver pronto você já tenha partido,
Quem sabe algum dia eu me perdoe por isso.
Quem sabe o tamanho da perda antes de perder?
Quem sabe algum dia eu e você ainda “Quem sabe”
Quem sabe eu tenha muito medo do “Quem sabe”
Quem sabe eu torça muito para o “Quem sabe”
Quem sabe algum dia não sejam mais necessários tantos “Quem sabe”.
Quem sabe algum dia “a gente ainda se encontra pra outra folia”
Quem sabe esperar por aquilo que talvez nunca chegue?
Quem sabe aonde tudo termina?
Quem sabe como é que isso tudo começou?
Quem sabe algum dia alguém dirá: “Eu sei”.
Por Thomaz
sábado, 16 de agosto de 2008
SAUDADE
é fiapo de grama no meio do deserto
no calor faz a lembrança da árvore
da sombra que oferece
é assim gosto-cheiro de coisa conhecida
casa de família
bagunça de primo, abraço de irmão
é sensação que acorda
junta o passado no presente
é sensação lá do fundo
que reacende e coloca tudo sobre perdão
dói e afaga
mói e abafa
encolhe e amarga
escorre e aquece
revive e reaviva
gosto de cheiro
cheiro de pele
toque de pelo
voz do apelo
por Cibely Dançante
no calor faz a lembrança da árvore
da sombra que oferece
é assim gosto-cheiro de coisa conhecida
casa de família
bagunça de primo, abraço de irmão
é sensação que acorda
junta o passado no presente
é sensação lá do fundo
que reacende e coloca tudo sobre perdão
dói e afaga
mói e abafa
encolhe e amarga
escorre e aquece
revive e reaviva
gosto de cheiro
cheiro de pele
toque de pelo
voz do apelo
por Cibely Dançante
sobre se ter outro nome
PINA BAUSCH
Abaixo as palavras!escritas, faladas, cantadas....
Ó humanidade que endurece o corpo em movimento conhecido
Sensação adormecida
Sentimento anestesia
Máquina formatada e à serviço
o corpo
não é morada
É
é vocês
ou eu
podemos nós
o mundo que mostro ao mundo
é falado pelo/ com/ de dentro do corp
osilencia agora a boca
e comece a falar
feche os ouvidos para escutar
por Cibely Zenari
Abaixo as palavras!escritas, faladas, cantadas....
Ó humanidade que endurece o corpo em movimento conhecido
Sensação adormecida
Sentimento anestesia
Máquina formatada e à serviço
o corpo
não é morada
É
é vocês
ou eu
podemos nós
o mundo que mostro ao mundo
é falado pelo/ com/ de dentro do corp
osilencia agora a boca
e comece a falar
feche os ouvidos para escutar
por Cibely Zenari
O que se é
Se quiser seguir-me, narro-lhe - não um conto, mas um acontecimento que custou esforço para despertar-me, após anos e anos de dormência. Eu, sempre acostumada a encantar e desencantar-me com formas voláteis, fui aprisionada por um juízo que trouxe, no paradoxo de todas as coisas vivas e vivíveis, uma libertação. Não que isso importe muito para a vossa senhoria, não tenho pretensão de transformar um milímetro de vossa nobre inclinação realística com meus escritos, mas tenho a ânsia peculiar do desabrochar, na explicitação enfática de minha prazerosa constatação. Talvez demore anos para compreender todo o processo que me impulsionou para tal ato de franqueza poética, mas digo-lhe: não sigas a duvidosa sensatez dos meus escritos. Amanhã sempre será outro dia. As coisas permanecerão de acordo com a envergadura peculiar de cada um e, manter-se aquecido dentro do próprio coração requer muita fé (e fogo brando). Não se engane, coração dos outros é terra de ninguém, não há como ter acesso em sã consciência, sem iludir-se com os próprios sentimentos multiplicados. Mas vamos ao fato em questão. Suponho que estejas curioso, se por ventura tenhas tido perseverança para ler estas palavras circunscritas. Não tenho pressa de relatar-lhe: o mundo é um moinho e nem sempre o ciclo das águas satisfarão a vossa sublime sede.
Era um dia comum, os impulsos reinavam, apesar do ânimo constante em manter os pés no chão. Era noite e fui tomar banho sem grandes pretensões reveladoras. Observava as fotos pré-congeladas nas paredes encardidas do banheiro, quando recebi uma visita inusitada. Digo a vossa senhoria que esta enigmática visita a qual me refiro não era uma visita qualquer, mas o elemento transformador que me faltava há tempos e que corajosamente aguardava desde os primórdios de minha paralisia. Sim senhor, estava paralisada, não me era possível mover nem mesmo uma unha de meu dedinho do pé e, não tenhas compaixão por isso, pois sempre convivi como se não houvesse paralisia nenhuma, com a independência daqueles que suspiram por perfeição extraterrena. Não invento palavras, tenho profundo respeito pelas entrelinhas. Olhei-me no espelho e vi algo fascinante: estava pela primeira vez acompanhada. Sugiro ao senhor que não busques imperfeições em meu sincero relato, a coerência deste absurdo ainda me encanta só de respirar! Sim, meus pensamentos desintegrados que atribuíam ao mundo a incessante incompletude da humanidade se moveram com o sopro leve de minha visão. E o senhor fique calmo, porque esta foi somente a primeira parte do achado.
A realidade seja dita, até aquele momento, eu, que sempre pude ignorar a beleza das minhas próprias deficiências, me entorpeci com a empreitada de finalmente olhar no espelho e reconhecer-me. A perfeição era circunscrita. E este fato é a pura extensão divina - me perdoe se não consegues atingir o ápice em poucas linhas descritas. A beleza não é a aceitação duvidosa de concernir. Pois sim, meu caro, acredite: o amor é uma constatação metalingüística! Quanto eu era amada e nem sequer notava! Sim, meu senhor, digo-lhe que renasci em poucos segundos - minha imagem sempre estivera lá, incólume sob a mesma forma oculta, e eu soube. Concretizei tal protuberância em um único suspiro e o rostinho da quase-menina deu um leve sorriso e ecoou.
por Thais Figueiredo
Era um dia comum, os impulsos reinavam, apesar do ânimo constante em manter os pés no chão. Era noite e fui tomar banho sem grandes pretensões reveladoras. Observava as fotos pré-congeladas nas paredes encardidas do banheiro, quando recebi uma visita inusitada. Digo a vossa senhoria que esta enigmática visita a qual me refiro não era uma visita qualquer, mas o elemento transformador que me faltava há tempos e que corajosamente aguardava desde os primórdios de minha paralisia. Sim senhor, estava paralisada, não me era possível mover nem mesmo uma unha de meu dedinho do pé e, não tenhas compaixão por isso, pois sempre convivi como se não houvesse paralisia nenhuma, com a independência daqueles que suspiram por perfeição extraterrena. Não invento palavras, tenho profundo respeito pelas entrelinhas. Olhei-me no espelho e vi algo fascinante: estava pela primeira vez acompanhada. Sugiro ao senhor que não busques imperfeições em meu sincero relato, a coerência deste absurdo ainda me encanta só de respirar! Sim, meus pensamentos desintegrados que atribuíam ao mundo a incessante incompletude da humanidade se moveram com o sopro leve de minha visão. E o senhor fique calmo, porque esta foi somente a primeira parte do achado.
A realidade seja dita, até aquele momento, eu, que sempre pude ignorar a beleza das minhas próprias deficiências, me entorpeci com a empreitada de finalmente olhar no espelho e reconhecer-me. A perfeição era circunscrita. E este fato é a pura extensão divina - me perdoe se não consegues atingir o ápice em poucas linhas descritas. A beleza não é a aceitação duvidosa de concernir. Pois sim, meu caro, acredite: o amor é uma constatação metalingüística! Quanto eu era amada e nem sequer notava! Sim, meu senhor, digo-lhe que renasci em poucos segundos - minha imagem sempre estivera lá, incólume sob a mesma forma oculta, e eu soube. Concretizei tal protuberância em um único suspiro e o rostinho da quase-menina deu um leve sorriso e ecoou.
por Thais Figueiredo
Assinar:
Postagens (Atom)